sábado, 26 de março de 2011

Educação e Tecnologia da Informação e Comunicação

A disciplina Educação e Tecnologia da Informação e Comunicação, com a qual tive a oportunidade de trabalhar na turma de Pedagogia da Universidade Estadual Vale do Acaraú - Polo Parelhas, trouxe consigo uma série de reflexões acerca da relação histórica entre o processo de construção do conhecimento e a tecnologia, destacando a importância das TIC na educação e suas implicações no processo de ensino-aprendizagem. No decorrer das aulas discutimos as temáticas pertinentes ao uso pedagógico dos recursos tecnológicos, especialmente o computador e Internet, utilizamos o ambiente interativo de aprendizagem e-proinfo como experiência prática de possibilidades de uso dessa ferramenta, bem como o blog, chat, lista de discussão, dentre outros. Outro enfoque da disciplina foi o desafio que se impõe ao professor mediante esta realidade e sua formação para atuar neste novo cenário educacional.

Vejamos algumas produções doas alunos:


A Internet está ai, a escola não está nem ai!

            A escola é a instituição por excelência, na transmissão de conhecimentos as gerações presentes, esses acumulados ao longo da história da humanidade, configuram-se como forma de poder, o que por sua vez, remete uma certa  autoridade a essa escola. A história revela ainda que  toda sociedade tem como principal instrumento regulador de suas relações, a escola, mas até que ponto, nos dias atuais a escola está isenta dos reflexos da sociedade?
            Estamos todos fadados a invasão da tecnologia, ela já está ai, com ou sem nosso consentimento, está instalada definitivamente no âmago de nossa sociedade ou “comunidade”. Eu ousaria até dizer que é uma das engrenagens mais dinâmicas que já movimentaram a humanidade ao longo de toda nossa história. Em contraponto a essa afirmação, alguém também já afirmou, toda instituição que não se abre as transformações do fazer humano, corre o fatídico risco de ser substituída por uma que lhe supere nas expectativas da geração presente. Nos parece muito forte essas colocações, mas não seriam tão delicadas, se não estivéssemos falando da relação escola-tecnologia.  
            As possibilidades que as novas tecnologias da informação nos remetem estão pautadas basicamente em três pilares: interatividade, hipertextualidade e conectividade. E nos parece que esses permeiam dessa maneira todas as relações sociais de nossa vida “pós- moderna”.
            Precisamos a todo momento, por uma necessidade ocasionada pelo que chamamos de globalização, sermos interativos, para com  outros  aprendermos a construir  juntos. Nessa aldeia global iremos perceber que nosso olhar se perde no todo e torna-se apenas mais um ponto de vista, para tanto, precisamos aprender a ler a hipertextualidade do mundo que nos cerca. E em terceiro lugar, precisamos de no mínimo uma conectividade requisito para  avançarmos para além do nosso eu.
            Acredito que está em nossas vistas a necessidade de educações múltiplas para pessoas múltiplas, de inteligências múltiplas em uma sociedade geratriz dessa multiplicidade.
            Dessa maneira, a escola carece de minimamente reconhecer seus desafios tecnológicos, mas sobretudo, pedagógicos e retomar  sua vocação de experimentar  e intercambiar o conhecimento legitimando assim sua autoridade. Acompanhando de perto e supervisionando, a busca de um possível equilíbrio saudável entre tecnologia-educação, rumo a melhores caminhos para humanidade.


Texto de Parcélio Silva, aluno do curso de Pedagogia na Universidade Estadual Vale do Acaráu - Parelhas, 02/03/2011.


A internet e o computador estão mudando a forma de ensinar



Pensando a escola no tempo presente, certamente a percebemos como elemento fundamental para a formação dos sujeitos sociais, pois é a instituição responsável pela difusão da herança cultural acumulada pela humanidade ao longo de sua trajetória. Entretanto lidamos com uma nova configuração escolar que enfrenta o desafio da busca por uma escola atualizada, inovadora e aberta as transformações que ocorrem todos os dias. Falamos aqui de uma escola que ouse reinventar o seu espaço pedagógico, suas práticas e suas relações, garantindo aos seus alunos acesso ao conhecimento. Nessa última década, muitas foram às alterações feitas no sistema educacional e falar em tecnologia nas escolas brasileiras era, quando muito, privilégio de elite. Seu uso praticamente se restringia a processar textos e a Internet era novidade absoluta.
Atualmente, esses recursos são os mais básicos de uma enorme gama de opções. O uso dos mesmos em sala de aula é uma parte dessa gama de opções que estão a nossa disposição para que possamos enriquecer nossos conteúdos e nossas atividades educativas.
Este breve artigo se baseia no texto; O uso da internet na escola e de como esta está mudando a forma de ensinar, visa da mesma forma lançar uma opinião particular acerca de tal temática. Vale salientar que tal realidade está constantemente presente no cotidiano de nossos educandos e que como afirma o texto, elas invadem nossas vidas, ampliam a nossa memória, garantem novas possibilidades de bem-estar e fragilizam as capacidades naturais do ser humano. Tal afirmação mostra claramente o quanto em nossos dias essa realidade nos cerca e nos leva a buscar constantemente meios de nos adequarmos as novas tecnologias para sabermos fazer uso delas ao nosso favor.
O uso da internet em nossas salas de aula nos permite trilhar por caminhos antes não trilhados, nos proporciona tempo, encurta distâncias, nos faz compartilhar experiências e uma oportunidade de ter contatos com novos conhecimentos; no entanto, para que se usufrua de tais vantagens se faz necessário estarmos “alfabetizados tecnologicamente”, para sermos seguros na forma de como utilizá-los.
Nós educadores, sabemos que essas novas tecnologias trouxeram grande impacto sobre a educação desenvolvida nos dias atuais e geraram novas formar de aprendizado, disseminação do conhecimento e, especialmente novas relações entre professor e aluno. E é notório que se quisermos conquistar e fazer parte do espaço de nossos educandos, faz-se necessário que façamos parte de seu mundo fora das nossas escolas, pois aderir aos recursos tecnológicos é tomar consciência também que os mesmos já vivem freqüentemente usufruindo dessas realidades, essas muitas vezes usadas de forma errônea, e compete a escola como formadora conscientizar a cada um como se pode fazer uso dessas ao seu proveito e ao seu desenvolvimento intelectual. Pois segundo Sobrinho, a escola “serve para preparar a vida social, a atividade produtiva e o desenvolvimento técnico cientifico. A escola é uma instituição social que tem importância fundamental em todos os momentos de mudanças na sociedade”.
Nesse sentido, defendo que o uso dos recursos tecnológicos em nossas escolas é valido, quando estes estão a serviço da qualidade e do enriquecimento do processo ensino-aprendizagem.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Sobrinho, Luiz de França. A Internet na escola está mudando a forma de ensinar. Disponível em: <http:/moodle.cead.unb.br/mídias/file.php/9/moddata/assignment/7/Ainternetnaescola.doc?forcedownload=1>.

PÁTIO, educação Infantil, Ano VI, novembro 2008/fevereiro 2009. nº18. A inclusão das tecnologias digitais na educação Infantil. José Armando Valente.

Texto de Mécia Valquíria, aluna do curso de Pedagogia na Universidade Estadual Vale do Acaráu - Parelhas, 02/03/2011.

terça-feira, 22 de março de 2011

Boas noticias!!!!!

Professores terão bolsas para cursos de mestrado profissional a distância
Segunda-feira, 21 de março de 2011 - 14:55
O ministro da Educação, Fernando Haddad, anunciou nesta segunda-feira, 21, a concessão de bolsas de mestrado profissional a distância para professores da educação básica que lecionam em escolas públicas. O anúncio foi feito em cerimônia no Palácio do Planalto, onde a presidente da República, Dilma Rousseff, condecorou 11 educadoras com a medalha da Ordem Nacional do Mérito.

Concedidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), no âmbito da Universidade Aberta do Brasil (UAB), as bolsas exigem dos docentes, como contrapartida, o compromisso de continuar em exercício na rede pública por um período de cinco anos após a conclusão do mestrado. A medida, que será formalizada por meio de portaria do Ministério da Educação, a ser publicada no Diário Oficial da União nesta terça-feira, 22, faz parte de um conjunto de ações para elevar a qualidade da educação básica, definida pelo MEC como “área excepcionalmente priorizada”.

Segundo o ministro, a intenção é que as universidades reajam à provocação feita pelo MEC e ofereçam mais cursos. “Queremos garantir o prosseguimento do estudo do professor, agora com mais que uma especialização – com um mestrado”, explicou o ministro. Os docentes poderão acumular a bolsa com seus salários.

A cada mês de março, o benefício será liberado e terá vigência máxima de 24 meses. Existe, também, a possibilidade de concessão de bolsas para mestrados presenciais, desde que em cursos aprovados pela Capes e consideradas algumas situações de interesse específico do Estado.

O não cumprimento do compromisso de cinco anos de exercício em escola pública, após o curso de mestrado a distância, implicará a devolução dos recursos. As próprias instituições de ensino vão estabelecer seus critérios de seleção. “Nada impede, entretanto, que sejam reservadas vagas para professores que já estejam em exercício”, argumentou Haddad.

Pacote - Além das bolsas, outras iniciativas se destacam quando o assunto é a qualificação de professores da educação básica: a Universidade Aberta do Brasil (UAB) e a expansão das universidades e dos institutos federais. Estes últimos têm, inclusive, uma reserva de vagas para ser suprida em cursos de licenciatura em matemática, física, química e biologia. A preocupação em formar professores nessas áreas também é destacada na portaria que será publicada nesta terça.

Como principal meta de qualidade, o Brasil deve atingir a nota 6 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) até 2021. No ano de sua última aferição, em 2009, a média brasileira era de 4,6, numa escala que vai de zero a dez.

É isso aí pessoal, estudar é bom e eu gosto, rumo ao mestrado.

terça-feira, 8 de março de 2011

Desabafo de mulher no dia 08 de março

"No Brasil a pobreza tem cara: ela é feminina, está ligada às mulheres". A frase é da presidente Dilma Rousseff, que publicou nesta terça-feira uma mensagem especial para o Dia Internacional da Mulher.
Dilma Rousseff finaliza a mensagem falando em oportunidades iguais para homens e mulheres. "O Brasil que queremos é um país rico, em que mulheres e homens têm as mesmas oportunidades e privilégios, contribuindo juntos para o desenvolvimento e criando seus filhos com dignidade e com orgulho".
Não precisamos de estatísticas para constatar o que nos fala a presidente, basta olharmos em volta. As famílias mais pobres são chefiadas por mulheres, são as mulheres as maiores vítimas da violência doméstica, abuso sexual, as mais oprimidas dos oprimidos, as mais miseráveis dos miseráveis.
Vivemos um novo milênio, um novo cenário tecnológico, científico, mas não conseguimos nos libertar dos velhos preconceitos. Numa sociedade hipócrita, onde o machismo permanece arraigado nas mentes que não conseguem se renovar, muito se fala na valorização da mulher, mas as que ousam ir além do fogão e do tanque, ainda pagam um alto preço, por mais dignas que sejam nossas tarefas domésticas e que desempenhamos tão bem, não é só isso que queremos. Queremos sim cuidar de nossas casas, dos nossos filhos, dos nossos companheiros, por amor e não simplesmente por obrigação, mas queremos estudar, rir, ser alegres, queremos pensar com nossas próprias cabeças, caminhar com nossos pés, não para provar que somos maiores ou melhores, porque não o somos, mas porque Deus nos concedeu o dom de trazer a vida ao mundo e não podemos nos conformar até que cada vida dessas tenha dignidade.
Não é desejo meu e falo também por muitas e muitas mulheres, passar toda nossa existência trancafiadas nos pequenos problemas do cotidiano: “Vida desperdiçada. Vida sem utopias, sem sonhos, sem ilusões. Vida sem vida!”
Tantas ousaram, desafiaram padrões, tiveram coragem de ser diferentes, muitas tem seu lugar ao sol, algumas conseguiram mudar o mundo. Algumas tem cargo de chefia, outras são reconhecidas e bem remuneras, são tantas histórias que nos impulsionam a viver com mais intensidade. Mas enquanto existir desigualdade, preconceito, injustiça, miséria e tantos outros males, não podemos nos aquietar. Temos o dom sublime de ensinar, somos educadoras por excelência e a educação muda vidas, muda o mundo, porque podemos através dela formar mentes e espíritos para serem, antes de tudo, humanos.
Não precisamos ter medo de ser mulheres, bonitas, perfumadas, bem arrumadas, femininas... fortes, destemidas, determinadas, inconformadas com o destino do mundo, tão distante dos planos de Deus. Incompreendidas, subjugadas, mal vistas aos olhos egoístas que só conseguem enxergar seu próprio umbigo, ainda o seremos, mas que ao passarmos por esses desafios, lembremos:
“É preciso que os incomodados vençam os acomodados. E que os inquietos vençam os magoados. E que uma força nova surja a cada dia nascida da coragem de quem não tem medo dos acontecimentos nem espera que eles aconteçam.” (Gabriel Chalita)

MULHERES, NESTE DIA INTERNACIONAL DA MULHER, FAÇO A TODAS UM CONVITE:

“NÃO FIQUEMOS NA PLATÉIA, MAS FAÇAMOS PARTE DO ESPETÁCULO”














Um feliz Dia da Mulher e feliz carnaval para todos!!!

sábado, 21 de agosto de 2010

O Professor Pesquisador e Reflexivo - Entrevista com Antonio Nóvoa

Salto: Professor, o que é ser professor hoje? Ser professor atualmente é mais complexo do que foi no passado?

Nóvoa: É difícil dizer se ser professor, na atualidade, é mais complexo do que foi no passado, porque a profissão docente sempre foi de grande complexidade. Hoje, os professores têm que lidar não só com alguns saberes, como era no passado, mas também com a tecnologia e com a complexidade social, o que não existia no passado. Isto é, quando todos os alunos vão para a escola, de todos os grupos sociais, dos mais pobres aos mais ricos, de todas as raças e todas as etnias, quando toda essa gente está dentro da escola e quando se consegue cumprir, de algum modo, esse desígnio histórico da escola para todos, ao mesmo tempo, também, a escola atinge uma enorme complexidade que não existia no passado. Hoje em dia é, certamente, mais complexo e mais difícil ser professor do que era há 50 anos, do que era há 60 anos ou há 70 anos. Esta complexidade acentua-se, ainda, pelo fato de a própria sociedade ter, por vezes, dificuldade em saber para que ela quer a escola. A escola foi um fator de produção de uma cidadania nacional, foi um fator de promoção social durante muito tempo e agora deixou de ser. E a própria sociedade tem, por vezes, dificuldade em ter uma clareza, uma coerência sobre quais devem ser os objetivos da escola. E essa incerteza, muitas vezes, transforma o professor num profissional que vive numa situação amargurada, que vive numa situação difícil e complicada pela complexidade do seu trabalho, que é maior do que no passado. Mas isso acontece, também, por essa incerteza de fins e de objetivos que existe hoje em dia na sociedade.

Salto: Como o senhor entende a formação continuada de professores? Qual o papel da escola nessa formação?

Nóvoa – Durante muito tempo, quando nós falávamos em formação de professores, falávamos essencialmente da formação inicial do professor. Essa era a referência principal: preparavam-se os professores que, depois, iam durante 30, 40 anos exercer essa profissão. Hoje em dia, é impensável imaginar esta situação. Isto é, a formação de professores é algo, como eu costumo dizer, que se estabelece num continuum. Que começa nas escolas de formação inicial, que continua nos primeiros anos de exercício profissional. Os primeiros anos do professor – que, a meu ver, são absolutamente decisivos para o futuro de cada um dos professores e para a sua integração

harmoniosa na profissão – continuam ao longo de toda a vida profissional, através de práticas de formação continuada. Estas práticas de formação continuada devem ter como pólo de referência as escolas. São as escolas e os professores organizados nas suas escolas que podem decidir quais são os melhores meios, os melhores métodos e as melhores formas de assegurar esta formação continuada. Com isto, eu não quero dizer que não seja muito importante o trabalho de especialistas, o trabalho de universitários nessa colaboração. Mas a lógica da formação continuada deve ser centrada nas escolas e deve estar centrada numa organização dos próprios professores.

Salto: Que competências são necessárias para a prática do professor?

Nóvoa – Provavelmente na literatura, nos textos, nas reflexões que têm sido feitas ao longo dos últimos anos, essa tem sido a pergunta mais freqüentemente posta e há uma imensa lista competências. Estou a me lembrar que ainda há 3 ou 4 dias estive a ver com um colega meu estrangeiro, justamente, uma lista de 10 competências para uma profissão. Podíamos listar aqui um conjunto enorme de competências do ponto de vista da ação profissional dos professores.

Resumindo, eu tenderia a valorizar duas competências: a primeira é uma competência de organização. Isto é, o professor não é, hoje em dia, um mero transmissor de conhecimento, mas também não é apenas uma pessoa que trabalha no interior de uma sala de aula. O professor é um organizador de aprendizagens, de aprendizagens via os novos meios informáticos, por via dessas novas realidades virtuais. Organizador do ponto de vista da organização da escola, do ponto de vista de uma organização mais ampla, que é a organização da turma ou da sala de aula. Há aqui, portanto, uma dimensão da organização das aprendizagens, do que eu designo, a organização do trabalho escolar e esta organização do trabalho escolar é mais do que o simples trabalho pedagógico, é mais do que o simples trabalho do ensino, é qualquer coisa que vai além destas dimensões, e estas competências de organização são absolutamente essenciais para um professor.

Há um segundo nível de competências que, a meu ver, são muito importantes também, que são as competências relacionadas com a compreensão do conhecimento. Há uma velha brincadeira, que é uma brincadeira que já tem quase um século, que parece que terá sido dita, inicialmente, por Bernard Shaw, mas há controvérsias sobre isso, que dizia que: “quem sabe faz, quem não sabe ensina”.

Hoje em dia esta brincadeira podia ser substituída por uma outra: “quem compreende o conhecimento”. Não basta deter o conhecimento para o saber transmitir a alguém, é preciso compreender o conhecimento, ser capaz de o reorganizar, ser capaz de o reelaborar e de transpô-lo em situação didática em sala de aula. Esta compreensão do conhecimento é, absolutamente, essencial nas competências práticas dos professores. Eu tenderia, portanto, a acentuar esses dois planos: o plano do professor como um organizador do trabalho escolar, nas suas diversas dimensões e o professor como alguém que compreende, que detém e compreende um determinado conhecimento e é capaz de o reelaborar no sentido da sua transposição didática, como agora se diz, no sentido da sua capacidade de ensinar a um grupo de alunos.

Salto: O que é ser professor pesquisador e reflexivo? E, essas capacidades são inerentes à profissão do docente?

Nóvoa – O paradigma do professor reflexivo, isto é, do professor que reflete sobre a sua prática, que pensa, que elabora em cima dessa prática é o paradigma hoje em dia dominante na área de formação de professores. Por vezes é um paradigma um bocadinho retórico e eu, um pouco também, em jeito de brincadeira, mais de uma vez já disse que o que me importa mais é saber como é que os professores refletiam antes que os universitários tivessem decidido que eles deveriam ser professores reflexivos. Identificar essas práticas de reflexão – que sempre existiram na profissão docente, é impossível alguém imaginar uma profissão docente em que essas práticas reflexivas não existissem – tentar identificá-las e construir as condições para que elas possam se desenvolver.

Eu diria que elas não são inerentes à profissão docente, no sentido de serem naturais, mas que elas são inerentes, no sentido em que elas são essenciais para a profissão. E, portanto, tem que se criar um conjunto de condições, um conjunto de regras, um conjunto de lógicas de trabalho e, em particular, e eu insisto neste ponto, criar lógicas de trabalho coletivos dentro das escolas, a partir das quais – através da reflexão, através da troca de experiências,

através da partilha – seja possível dar origem a uma atitude reflexiva da parte dos professores. Eu disse e julgo que vale a pena insistir nesse ponto.

A experiência é muito importante, mas a experiência de cada um só se transforma em conhecimento através desta análise sistemática das práticas. Uma análise que é análise individual, mas que é também coletiva, ou seja, feita com os colegas, nas escolas e em situações de formação.

Salto: E o professor pesquisador?

Nóvoa – O professor pesquisador e o professor reflexivo, no fundo, correspondem a correntes diferentes para dizer a mesma coisa. São nomes distintos, maneiras diferentes dos teóricos da literatura pedagógica abordarem uma mesma realidade. A realidade é que o professor pesquisador é aquele que pesquisa ou que reflete sobre a sua prática. Portanto, aqui estamos dentro do paradigma do professor reflexivo. É evidente que podemos encontrar dezenas de textos para explicar a diferença entre esses conceitos, mas creio que, no fundo, no fundo, eles fazem parte de um mesmo movimento de preocupação com um professor que é um professor indagador, que é um professor que assume a sua própria realidade escolar como um objeto de pesquisa, como objeto de reflexão, com objeto de análise. Mas, insisto neste ponto, a experiência por si só não é formadora. John Dewey, pedagogo americano e sociólogo do princípio do século, dizia: “quando se afirma que o professor tem 10 anos de experiência, dá para dizer que ele tem 10 anos de experiência ou que ele tem um ano de experiência repetido 10 vezes”. E, na verdade, há muitas vezes esta idéia. Experiência, por si só, pode ser uma mera repetição, uma mera rotina, não é ela que é formadora. Formadora é a reflexão sobre essa experiência, ou a pesquisa sobre essa experiência.

Salto: A sociedade espera muito dos professores. Espera que eles gerenciem o seu percurso profissional, tematizem a própria prática, além de exercer sua prática pedagógica em sala de aula. Qual a contrapartida que o sistema deve oferecer aos professores para que isso aconteça?

Nóvoa – Certamente, nas entrelinhas da sua pergunta, há essa dimensão. Há hoje um excesso de missões dos professores, pede-se demais aos professores, pede-se demais as escolas.

As escolas, talvez, resumindo numa frase (...), as escolas valem o que vale a sociedade. Não podemos imaginar escolas extraordinárias, espantosas, onde tudo funciona bem numa sociedade onde nada funciona. Acontece que, por uma espécie de um paradoxo, as coisas que não podemos assegurar que existam na sociedade, nós temos tendência a projetá-las para dentro da escola e a sobrecarregar os professores com um excesso de missões. Os pais não são autoritários, ou não conseguem assegurar a autoridade, pois se pede ainda mais autoridade para a escola. Os pais não conseguem assegurar a disciplina, pede-se ainda mais disciplina a escola. Os pais não conseguem que os filhos leiam em casa, pede-se a escola que os filhos aprendam a ler. É legítimo eles pedirem sobre a escola, a escola está lá para cumprir uma determinada missão, mas não é legítimo que sejam uma espécie de vasos comunicantes ao contrário. Que cada vez que a sociedade tem menos capacidade para fazer certas coisas, mais sobem as exigências sobre a escola.

E isto é um paradoxo absolutamente intolerável e tem criado para os professores uma situação insustentável do ponto de vista profissional, submetendo-os a uma crítica pública, submetendo-os a uma violência simbólica nos jornais, na sociedade, etc. o que é absolutamente intolerável. Eu creio que os professores podem e devem exigir duas coisas absolutamente essenciais que são:

· Uma, é calma e tranqüilidade para o exercício do seu trabalho, eles precisam estar num ambiente, eles precisam estar rodeados de um ambiente social, precisam estar rodeados de um ambiente comunitário que lhes permita essa calma e essa tranqüilidade para o seu trabalho. Quer dizer, não é possível trabalhar pedagogicamente no meio do ruído, no meio do barulho, no meio da crítica, no meio da insinuação. É absolutamente impossível esse tipo de trabalho. As pessoas têm que assegurar essa calma e essa tranqüilidade.

· E, por outro lado, é essencial ter condições de dignidade profissional. E esta dignidade profissional passa certamente por questões materiais, por questões do salário, passa também por boas questões de formação, e passa por questões de boas carreiras profissionais. Quer dizer, não é possível imaginar que os professores tenham

condições para responder a este aumento absolutamente imensurável de missões, de exigências no meio de uma crítica feroz, no meio de situações intoleráveis, de acusação aos professores e às escolas.

Eu creio que há, para além dos aspectos sociais de que eu falei a pouco – e que são aspectos extremamente importantes, porque no passado os professores não tiveram, por exemplo, os professores nunca tiveram situações materiais e econômicas muito boas, mas tinham prestígio e uma dignidade social que, em grande parte completavam algumas dessas deficiências – para além desses aspectos sociais de que eu falei a pouco e que são essenciais para o professor no novo milênio, neste milênio que estamos, eu creio que pensando internamente a profissão, há dois aspectos que me parecem essenciais. O primeiro é que os professores se organizem coletivamente – e esta organização coletiva não passa apenas, eu insisto bem, apenas pelas tradicionais práticas associativas e sindicais – passa também por novos modelos de organização, como comunidade profissional, como coletivo docente, dentro das escolas, por grupos disciplinares e conseguirem deste modo exercer um papel com profissão, que é mais ampla do que o papel que tem exercido até agora. As questões dos professorado enquanto coletivo parecem-me essenciais. Sem desvalorizar as questões sindicais tradicionais, ou associativas, creio que é preciso ir mais longe nesta organização coletiva do professorado.

O segundo ponto – e que tem muito a ver também com formação de professores – passa pelo que eu designo como conhecimento profissional. Isto é, há certamente um conhecimento disciplinar que pertence aos cientistas, que pertence às pessoas da história, das ciências, etc., e que os professores devem de ter. Há certamente um conhecimento pedagógico que pertence, às vezes, aos pedagogos, às pessoas da área da educação que os professores devem de ter também. Mas, além disso há um conhecimento profissional que não é nem um conhecimento científico, nem um conhecimento pedagógico, que é um conhecimento feito na prática, que é um conhecimento feito na experiência, como dizia há pouco, e na reflexão sobre essa experiência.

A valorização desse conhecimento profissional, a meu ver, é essencial para os professores neste novo milênio. Creio, portanto, que minha resposta passaria por estas duas questões: a organização como comunidade profissional e a organização e sistematização de um conhecimento profissional específico dos professores.

Salto: O senhor diz em um texto que a sua intenção é olhar para o presente dos professores, identificando os sentidos atuais do trabalho educativo. Em relação ao Brasil o que o senhor vê: o que já avançou na formação dos professores brasileiros e o que ainda precisa avançar?

Nóvoa – É muito difícil para mim e nem seria muito correto estar a tecer grandes considerações sobre a realidade brasileira. Primeiro porque é uma realidade que, apesar de eu cá ter vindo algumas vezes, que eu conheço ainda mal, infelizmente, espero vir a conhecer melhor e, por outro lado, porque não seria (...) da minha parte tecer grandes considerações sobre isso.

No entanto, eu julgo poder dizer duas coisas. A primeira é que os debates que há no Brasil sobre formação de professores e sobre a escola são os mesmos debates que se tem um pouco por todo mundo. Quem circula, como eu circulo, dentro dos diversos países europeus, na América do Norte e outros lugares, percebe que estas questões, as questões que nos colocam no final das palestras, as perguntas que nos fazem são, regra geral, as mesmas de alguns países para os outros. Não há, portanto, uma grande especificidade dos fatos travados no Brasil em relação a outros países do mundo e, em particular, em relação a Portugal.

Creio que houve, obviamente, avanços enormes na formação dos professores nos últimos anos, mas houve também grandes contradições. E a contradição principal que eu sinto é que se avançou muito do ponto de vista da análise teórica, se avançou muito do ponto de vista da reflexão, mas se avançou relativamente pouco das práticas da formação de professores, da criação e da consolidação de dispositivos novos e consistentes de formação de professores. E essa decalagem entre o discurso teórico e a prática concreta da formação de professores é preciso ultrapassá-la e ultrapassá-la rapidamente. Devo dizer, no entanto, também, que se os problemas são os mesmos, se as questões são as mesmas, se o nível de reflexão é o mesmo, eu creio que a comunidade científica brasileira está ao nível das comunidades científicas ou pedagógicas dos outros países do mundo. Se essas realidades são as mesmas é evidente que há um nível, que eu diria, um nível material, um nível de dificuldades materiais, de dificuldades materiais nas escolas, de dificuldades materiais relacionadas com os salários dos professores, de

dificuldades materiais relacionadas com as condições das instituições de formação de professores que são, provavelmente, mais graves no Brasil do que em outros países que eu conheço.

Terão aqui, evidentemente, problemas que têm a ver com as dificuldades históricas de desenvolvimento da escola no Brasil e das escolas de formação de professores e que, portanto, é importante enfrentá-los e enfrentá-los com coragem e enfrentá-los de forma não ingênua, mas também de forma não derrotista. Creio, por isso, que devemos perceber que no Brasil, como nos outros países, as perguntas são as mesmas, as nossas empolgações são as mesmas, mas é verdade que há aqui por vezes dificuldades que eu chamaria de ordem material, maiores do que as existem em outros países e que é absolutamente essencial que com a vossa capacidade de produzir ciência, com a vossa capacidade de fazer escola e com a vossa capacidade de acreditar como educadores possam ultrapassar essas dificuldades nos próximos anos. E esses são, sinceramente, os meus desejos e na medida que meu contributo, pequeno que ele seja, possa ser dado, podem, evidentemente, contar comigo para essa tarefa.